terça-feira, 27 de março de 2007

Poema: "Vou... mas não tão longe."

...

Hoje não devia ter saído de casa.
Hoje não devia ter perfurado o raciocínio
Com rotinas ordinárias,
Só porque não tinha tabaco.
E não devia ter voltado cedo para casa
(Uma vez que saído)
Só porque não tinha mais trocos consideráveis.
Hoje não devia ter nascido,
Só porque o meu ser foi vontade de outrem
(Mas uma vez que nascido)
Hoje não devia ter morrido
Só porque a vontade é agora do meu ego.

Tive um diálogo com o meu ego.
Ele disse-me que eu era exagerado de preconceitos,
Eu disse-lhe que ele é que era medíocre de juízos.
Ele disse-me que eu era incoerente com conclusões ambíguas,
Eu disse-lhe que raramente encontramos alguém com bom senso
Para além daqueles que concordam connosco...
Ele respondeu-me que já tinha lido esse filósofo
E que não é assim tão bom quanto isso,
Eu respondi-lhe que ele[o meu ego] era
Como se uma personagem dum livro de Paulo Coelho.
O meu ego então cuspiu-me,
E eu limpei-o da cara
E o meu orgulho meteu-se ao barulho
E atirou o meu ego para o chão como lixo.
E o meu conformismo com medo de mais escândalos
Apanhou-o do chão como uma moeda de poucos centímos,
E paguei o café com o meu ego,
E saí a correr do café antes que o empregado corresse atrás de mim,
Porque o meu ego nunca valeu nada
Nem para mim nem para ninguém.

Eu nunca tive trocos no bolso onde
Guardo refugos da minha fase da afirmação.
E o outro bolso está furado
Desde a última vez que guardei a minha preguiça.
Por isso...

1 comentário:

s0ninha d0s lim0es disse...

you have a gift, my friend...

(...)n consigo parar de ler