quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Poema: "Poema dedicado à Tua linha"




Perdi o comboio para o meu destino.
F...!!!
Perdi o comboio para aquilo que me designa melhor!
FF...!!!
Perdi o último comboio para me ser dentro de mim!
FFF...!!!

Estou há já vários tempos no mesmo apeadeiro.
Arre! Qu'este azoto não se destila cá nas veias!
Que os tectos do Mundo me caiam em cima!
Ai! Que hoje é um bom dia para adormecer
Com a cabeça sobre o colo da eternidade...!

Ah! Se o pensamento fosse barato!
Como para as mulheres de moral distraída...
Ah! Se as interjeições fossem todas cor-de-rosa!
Como para os homens que fomentam tais mulheres...

Malditos itinerários de uma só oportunidade!
Hoje era o dia do meu destino,
Amanhã o meu destino já não é o mesmo.
Hoje era o dia em que te cantaria ao Olimpo,
Amanhã o meu canto oxida a meio da Serra do Pilar...

RAIOS!
Vou partir as cadeiras em que o Criador se senta!
(Mas ele só as faz em granito...)
Vou berrar aos ouvidos dos anjos!
(Mas a voz dos mortais dissolve-se antes das nuvens...)
Vou entrefolhar a maior rameira do Universo!!!
(Mas nem os trocos p'ra outro bilhete de comboio tenho...)

...

Hoje o meu destino mudou sem a minha vontade.
Hoje o meu destino tornou-se num sonho
Que me é mais genuíno que a realidade.
Agora só os Deuses sabem se a Morte reorganizou
A celebração da minha chegada...!
Arre! O cieiro que tal sonho causa
No couro da mente!

A morte? A morte não me assusta...
A morte é uma cedência de lugar
A uma mulher grávida num comboio.
Com toda a certeza, morrerei orgulhoso.
(As leis do bom senso dizem-me para ficar de pé)
Mas até p'ra isso tinha que apanhar aquele comboio!

Raios partam a ferrovia e quem lá ande!