quarta-feira, 28 de março de 2007

Poema Alheio: " To The Virgins, To Make Much Of Time" de Robert Herrick




















Gather ye rose-buds while ye may,
Old Time is still a-flying:
And this same flower that smiles today,
Tomorrow will be dying.

The glorious lamp of heaven, the sun,
The higher he's a getting;
The sooner will his race be run,
And nearer he's to setting.

That age is best, which is the first,
When youth and blood are warmer;
But being spent, the worse, and worst
Times, still succeed the former.

Then be not coy, but use your time;
And while ye may, go marry:
For having lost but once your prime,
You may forever tarry.

Poema: "Crentes"

Ontem à noite fomos uns miúdos,
Que nunca foram ao Porto ou a Lisboa,
Uns crentes...

Fomos até à Foz do Arelho
E ficámos estupefactos com a praia,
Com a noite, e com a noite da praia.
E lembrámo-nos de ti,
E que tu não estavas lá.

Então,
Tentamos trazer-te o mar,
Mas não conseguíamos agarrar a água.
Tentamos trazer-te a areia,
Mas toda ela nas nossas mãos era escassa.
Tentamos inalar toda a brisa marítima,
Mas eramos só quatro pulmões.
Tentamos digitalizar todo aquele panorama,
Mas com a vista só o víamos.
E o som do vento só o ouvíamos,
E não conseguíamos reproduzi-lo.

Contudo,
Colhemos a flor branca da liberdade,
Colhemos a flor amarela do espírito jovem e eternidade,
Colhemos a flor púrpura ou violeta ou magenta ou lilás
Da mútua simplicidade.
Colhemos as folhas verdes e aquelas pseudo-pétalas vermelhas
Da localidade comum ao interior e exterior,
Para ti.

Nós não conseguimos,
Mas esperamos que as flores consigam...
Conseguiram?
...
Não te quisemos acordar,
E deitámo-nos crentes
(Estávamos crentes)
E hoje acordamos crentes
(Somos crentes)
Uns crentes...

terça-feira, 27 de março de 2007

Poema: "Espantar Extinto"

Onde estou?
Para que lado vou?
Da recta do tédio com a recta da futilidade
Num plano todo ele solitário
De mim, não sei, nem tenho coordenadas concretas
E mal consigo dizer que "cheguei a este ponto!"

Tudo que devoro com um olhar simples
Abafa tudo que foi saboreado com o pensamento construtivo,
Pela lei do menor esforço, tentam-me as situações fáceis
Que me fazem evitar o (re)criar
E não fazer mais que um (in)esteticamente reciclar.

Quero desaprender tudo e poder questionar tudo!
Mais vale espantar-me até com folhas de Outono caídas
Que a maior obra prima universal passar-me despercebida,
Como se uma espécie de publicidade subentendida
Que depois de vista, apenas sei que quero ver cores e mais cores
Como se nunca tivesse visualizado qualquer vocabulário cromático.

Como se todas as coisas valiosas fossem estéticas
(Seriam os artistas nobres ou só burgueses?)
O exagero do próprio demasiado,
Cúmulo de todas as tentações da ostentação!
Caímos num cais tão fútil,
Em que a maré é sempre a mesma
E qualquer corpo bóia e nunca se afunda.

Ao meu olhar
Já nem as flores desabrocham, só murcham.
As folhas de Outono morrem secas
Porque já nascem secas.

Já nem sei que o céu é azul, é só céu.
E o céu é uma coisa e o azul é outra,
Já não se pensa dizer as duas coisas na mesma linha
Porque não se pôde dizer três coisas na mesma linha
(Era demasiado dizer três coisas na mesma linha).

Misturam-se os conceitos, quentes com frios
Perco-me, atrapalhado, no padrão lógico
E só me encontro, já aliviado, na contradição
(Mas um contraste não pode ser uma técnica?
É que esbordei tanto suor para fazer um contraste...)

As coisas tornaram-se pré-conceituadas
Que até o mais elaborado verso já está predefinido!
Não PELO olhar Mas POR olhar e não olhar
Todos os dias iguais em horas erradas
Em minutos que, despercebido, me passam...

O Espantar está extinto,
O (Re)criar está banal,
O Aperceber(-se) é obviamente lógico,
O Clássico está fora de moda porque o Contemporâneo é hoje fútil.

Poema: "Vou... mas não tão longe."

...

Hoje não devia ter saído de casa.
Hoje não devia ter perfurado o raciocínio
Com rotinas ordinárias,
Só porque não tinha tabaco.
E não devia ter voltado cedo para casa
(Uma vez que saído)
Só porque não tinha mais trocos consideráveis.
Hoje não devia ter nascido,
Só porque o meu ser foi vontade de outrem
(Mas uma vez que nascido)
Hoje não devia ter morrido
Só porque a vontade é agora do meu ego.

Tive um diálogo com o meu ego.
Ele disse-me que eu era exagerado de preconceitos,
Eu disse-lhe que ele é que era medíocre de juízos.
Ele disse-me que eu era incoerente com conclusões ambíguas,
Eu disse-lhe que raramente encontramos alguém com bom senso
Para além daqueles que concordam connosco...
Ele respondeu-me que já tinha lido esse filósofo
E que não é assim tão bom quanto isso,
Eu respondi-lhe que ele[o meu ego] era
Como se uma personagem dum livro de Paulo Coelho.
O meu ego então cuspiu-me,
E eu limpei-o da cara
E o meu orgulho meteu-se ao barulho
E atirou o meu ego para o chão como lixo.
E o meu conformismo com medo de mais escândalos
Apanhou-o do chão como uma moeda de poucos centímos,
E paguei o café com o meu ego,
E saí a correr do café antes que o empregado corresse atrás de mim,
Porque o meu ego nunca valeu nada
Nem para mim nem para ninguém.

Eu nunca tive trocos no bolso onde
Guardo refugos da minha fase da afirmação.
E o outro bolso está furado
Desde a última vez que guardei a minha preguiça.
Por isso...

O Primeiro Post

Do latim "scripta" (escrita), "vagativu" (vadio). Será então o nome deste blog algo como: "Escrita Vadia".
Escrevo quando me apetece e porquê? Porque me apetece. Porque é que me apetece? Sei lá! Sou um vadio que às vezes passeia por palavras. Às vezes nem sei para onde vou e escrevo palavras soltas. Sou capaz até de escrever aqui os refugos da minha fase de afirmação que ainda cá tinha no bolso(se calhar até já escrevi nas entrelinhas destes passos vadios).
Lamechas? Talvez... Mas lamechas com nível.
Rídiculo? Talvez... Mas mais é quem não escreve(aproveitando as lições poéticas do Nandinho)...
Posso até ver isto como uma experiência sociológica, a contemplação pessoal virá por acréscimo(se vier e se me apetecer)...
Agora calem-se-me todos e deixem-me fazer ruído pelo Mundo. Ou só pela minha casinha, não interessa...